As incorporadoras de capital aberto colocaram o pé no freio dos lançamentos de imóveis no período da Copa do Mundo, como já era esperado pelo mercado. No intervalo de 12 de junho a 13 de julho, quando as atenções se voltaram para os jogos do mundial, o fluxo de visitas aos estandes de vendas de imóveis caiu, e consumidores não demonstraram urgência na tomada de decisão de compra. Há expectativa que, no acumulado de 2014, os lançamentos sejam semelhantes ou menores do que os de 2013.
"Houve queda de cerca de 20% das visitas aos plantões de vendas da Região Metropolitana de São Paulo", conta a diretora-geral de atendimento da imobiliária Lopes, Mirella Parpinelle.
Na Região Metropolitana de São Paulo, a Even foi a única incorporadora listada em bolsa a fazer lançamentos por meio da Lopes durante a Copa. A Even respondeu por R$ 245 milhões dos R$ 350 milhões lançados pela Lopes no período dos jogos, conforme Mirella. Todos os três lançamentos da incorporadora na Copa foram na capital.
A Even não comenta quanto lançou durante a Copa, mas o diretor financeiro e de relações com investidores da companhia, Dany Muszkat, afirma que, no período, as vendas "deram uma parada" no mercado. "Todo mundo subestimou o efeito da Copa. Com as transmissões maravilhosas, foi muito mais fácil ficar em casa. Houve jogos muito atrativos no fim de semana, quando clientes costumam visitar imóveis", acrescenta o presidente da Even, Carlos Eduardo Terepins.
Levantamento da Lopes aponta que, no mercado da Região Metropolitana de São Paulo, as companhias de capital aberto lançaram sete projetos, no total de R$ 496 milhões, durante a Copa. Na metade do período dos jogos, a EZTec divulgou lançamento de projeto residencial de médio-alto padrão no Tatuapé, bairro da zona leste da capital, com Valor Geral de Vendas (VGV) de R$ 135,9 milhões.
A desaceleração de lançamentos durante a Copa acentuou o cenário de boa parte das empresas privilegiando, desde o início do ano, a venda de estoques. "No primeiro semestre, o mercado deveria ter absorvido mais os lançamentos do último trimestre de 2013", afirma a executiva.
Mirella diz esperar que o segundo semestre seja melhor do que a primeira metade do ano, mas que, no acumulado de 2014, o volume lançado será inferior ao de 2013 tanto considerando-se as incorporadoras abertas quanto o mercado todo. Na avaliação do superintendente de relações com investidores da concorrente Brasil Brokers, Rodrigo Cuesta, os lançamentos de 2014 devem apresentar "alguma estabilidade ou retração" na comparação com o ano passado.
Em junho, os lançamentos nacionais de incorporadoras por meio da Brasil Brokers caíram 35% na comparação com o mesmo mês do ano passado e, em São Paulo, encolheram 30%. "No período de 12 de junho a 13 de julho, a queda deve ter sido ainda maior, pois ainda tivemos lançamentos na primeira semana de junho", diz o executivo da Brasil Brokers. A retomada dos lançamentos ocorrerá a partir de agosto, de acordo com Cuesta, e, apesar do período eleitoral, o segundo semestre tende a ter mais lançamentos do que o primeiro.
A MRV Engenharia lançou projetos durante a Copa do Mundo, mas em número menor do que o previsto, inicialmente. "A Copa prejudicou um pouco os lançamentos. Antes do início dos jogos, planejávamos não fazer nenhuma alteração no período", diz o co-presidente da MRV, Rafael Menin Teixeira de Souza. "A cabeça dos consumidores ficou um pouco distante das necessidades básicas no período", acrescenta o co-presidente.
O executivo da MRV ressaltou que as condições do mercado para imóveis destinados à baixa renda, segmento de atuação da incorporadora, não mudaram. A companhia ainda não divulgou sua prévia operacional do segundo trimestre, mas Menin sinalizou que o período foi "muito bom". No mês de maio, as vendas de imóveis foram impulsionadas pelos feirões promovidos pela Caixa Econômica Federal.
Conforme o diretor-presidente da Rodobens Negócios Imobiliários, Marcelo Borges, a Copa atrapalhou o mercado imobiliário desde maio, quando as atenções da mídia já estavam voltadas para o evento.
Durante o período dos jogos, a Rodobens lançou um empreendimento residencial de alto padrão em São José do Rio Preto (SP). "Mas o marketing do lançamento será feito somente a partir do próximo dia 24", diz Borges. A avaliação da companhia foi que não valeria à pena, segundo o executivo, investir na divulgação do projeto durante a Copa.
A Cyrela Brazil Realty, maior incorporadora de capital aberto do país, fez um lançamento durante a Copa, no dia 26 de junho. Trata-se de projeto de loteamento, em Sorocaba (SP). Até o momento, 75% das unidades do projeto estão vendidas. Em incorporação, a Cyrela não lançou nenhum empreendimento no período dos jogos.
No segundo trimestre, a Cyrela lançou R$ 890,2 milhões, o que representa retração de 49,5% ante o mesmo intervalo do ano passado, incluindo a participação dos sócios nos empreendimentos. A incorporadora não lançou nenhum projeto da faixa 1 do programa habitacional Minha Casa, Minha Vida no trimestre, ante R$ 492 milhões de abril a junho de 2013. As vendas contratadas totais encolheram 42,3%, para R$ 1,26 bilhão.
A Helbor foi uma das incorporadoras listadas em bolsa que não lançou projetos em junho e não tem empreendimentos programados para julho. Segundo o presidente da Helbor, Henry Borenstein, informou, recentemente, ao Valor, a decisão de não fazer lançamentos nesses dois meses deveu-se, além da Copa, ao período de férias.
Fonte: obra24horas